Stanley Keleman foi um dos pioneiros no estudo das relações que envolvem a corporificação das nossas experiências e emoções. Com diversos livros escritos, entre eles, o célebre “Anatomia Emocional”, Keleman nos faz pensar sobre a construção e (des)construção de alguns padrões de postura corporal.

A seguir um trecho do livro “Realidade Somática”, onde ele explica claramente a esse respeito:

“O que é crucial, e que geralmente é esquecido pela própria natureza do processo de estereotipia, é que toda pessoa ao crescer criou, praticou e aperfeiçoou padrões de expressão e comportamento social. Ouvimos: Não seja carente, não fique triste, não seja impaciente, aprenda a se controlar. Mas para colocar em prática o que outros consideram comportamentos ideais, talvez tenhamos de inibir os movimentos peristálticos intestinais, interferir no ritmo cardíaco e dos vasos sanguíneos ou contrair a musculatura esquelética. Essas ações impedem a concretização de impulsos como exteriorizar-se, correr ou fazer ruídos.

Por exemplo: quando uma criança se prepara para chorar, ela primeiro prende a respiração, interrompe um padrão respiratório específico, contorce o rosto, crispa a boca, abre-a e chora. No caso de um adulto, antes que o choro tenha início, pode-se observar como uma tristeza se concentra e aprofunda.

Em minha opinião é de grande importância reconhecer esses padrões. Suponha que perguntássemos a uma pessoa que está enraivecida: Como você fica enraivecida? Ela diz: Fico enraivecida gritando. Perguntamos então: Como você grita? E ela responde: Ergo o peito e aperto a garganta. Podemos então perguntar: Como você sabe disso? Ela: Bem, eu me lembro que fazia isso quando era criança e, portanto, continuo fazendo. Faz parte da sensação de conhecer a mim mesma. Então, você ainda pode perguntar: Você sabe como desenvolveu esse peito levantado? E ela diz: Eu me lembro que quando criança meu pai gritava comigo. Eu gelava e meus ombros levantavam. Agora percebo o padrão interno que ergue meu corpo para gritar.” (trecho publicado originalmente pela terapeuta corporal Thaís de Queiroz)

Qualquer trabalho corporal perpassa por essa historia escrita e expressa nas nossas habilidades de movimento, limitações, restrições, soltura e dores. Isso é muito importante e interessante, já que trabalhar o corpo é antes de mais nada respeitar a historia que cada um carrega, que cada um corporifica. Dentro desse olhar de respeito também reside a possibilidade de explorar e mudar, (re)construir e continuar a escrever novos capítulos onde a relação com esse mesmo corpo pode ser mais integrada e consciente.

A seguir, um video onde somos inspirados a encarar nossas limitações de movimento como fazem os bebês.